terça-feira, 18 de outubro de 2016

Não me pertenço

Não sei quem sou. À fortuna pertenço.
Quis-me perder em teu século de rabugice desperto.
Da rotina sucessiva, do amanhecer que promete,
Fingindo a véspera presente que o amanhã envelhece.
A solidão que o tempo causa… eu não quero,
Ser quem eu sou, não me pertenço, reitero.
E dos príncipes que há na terra em busca do sonho,
Ciosos de vingança, rosa dos ventos infante,
Florete e espadachim,  vernáculo sem fim,
Cabe a Deus restituir teu nobre preceito,
Os meus sonhos na terra, na triste carne solitária.
E no pesaroso olhar que carrego,
Serei sonho, serei paladino, serei a dor do teu abraço?
Talvez pele tatuada na ponta dos dedos,
Que violam meu rosto tornado poeira,
Que enleiam os medos,
Embriagado de sonhos, ogiva e sentidos,
Eu não sou quem sonhei,

Sou metade vontade em lágrimas que chorei.

Hugo de Oliveira

Foto: #artbychina

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

30


Os teus olhos palpitavam o sorriso desbravado,
Um olhar penetrante, peito enroscado,
Na melodia calada do ermo sombrio.
E as tuas mãos que tocaram,
Suave e delicadas, perto do coração,
A alma bravava as folhas de olaia,
Do sorriso incendiado, tamanha emoção.
Entro nos corredores primaveris,
E sorrindo, respirando, em sais e cristais,
Envolvo-me no abraço do teu beijo,
A melodia do teu olhar,
Os teus lábios gritantes, ciosos de paixão,
Deste nosso respirar,
Permanecemos abraçados, nossa confissão.
E meu alento o brilho da tua alma,
Dos rios que fogem, as rochas que partem,
Do medo, ao amor, do fogo à calma,
Abrigo o teu rosto no meu pensamento.

Texto e Imagem: Hugo de Oliveira

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Douro


Corre o caudal sagrado, lento e vaidoso,
Rumo ao cais divino.
Um caudal em dor e sofrimento,
De socalco em ramada,
Verso em frescura.
E pudesse eu, regressar ao silêncio perdido,
Ao pretérito onde pertenci,
Ao espaço vazio, cosmos, negro e frio,
Haveria de gritar e exacerbar a cor da vida,
De uma passagem secreta, nossa e luzidia.
Tamanha dor, soluçar profundo,
Harmonia e paixão,
O Douro, meu refúgio,
O meu mundo.