quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Velhos Poetas


Velhos Poetas.
Apenas um sonho.
Um sonho.
Basta-lhe a paixão,
Meros momentos bravios.
E ciosos do infinito,
Um exército em chama,
De imagens e vestígios sombrios,
Permanecem inócuos,
Tamanho lamento.
São seres vividos, diria mesmo sabidos,
Que rabiscam o clandestino, o inferno, cretino.
Dizem-se poetas, distinta casta.
Num mundo enigmático, cobiçam seu vizinho.
É fulcral que os travem,
Que os decapitem, os matem.
Maldita classe literária – os poetas – ternos velhacos,
De eterna compaixão exuberante,
Sejam mortos à fortuna do acaso silenciado,
Sufoquem lamúrias,
Suspiros, prantos e lamentos.
E de vagos propósitos, calmaria, injúrias,
Maltratadas pelo vento, dos brancos livros inúteis,
Dos velhos baús de recordações de almas sentimentais,
Rasurado no velho tronco da árvore à beira mar plantada,
Leem-se murmúrios velhos sábios, letras em cadência,
Do verso irónico da palavra emanada,
Vestígios febris denunciam a sua existência.
Pesados ocultos, do tamanho do amor,
Permanece a esperança da velha saudade,
Versos libertinos, do espanto cretino Homens sem alma,
Conduzidos pela emoção sem leme ou capitão,
Declamam sentimentos proibidos,
Nas tristes horas, pura solidão,
(Re)inventam-se na paixão,
Da arte leviana, inalam pasmos, pura maresia,
Desse teu corpo imundo, (re)nasce a Poesia.
Hugo de Oliveira
Imagem: Henri Matisse

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Sente-me



Sente-me, tua boca austera,
Sente-me agora, e não tardes,
Antes que o corpo se desfaça, em sangue, antes.
Antes, da morte, sente-me amor, sente-me,
Crava teus dedos, repletos do nada,
Cheira meu sopro, saboreia meu tato e sente-me,
Sente a neblina em meus olhos, a escura agonia,
E verdes os beijos, sentimos fome,
Teus lábios, conhecendo-os, lento o verbo.
E da noite vadia,
O nosso tempo urdindo,
Sente-me, vagaroso,
A minha carne, outrora pura, agora fugidia,
Vida escorrida, cíclica, languida.
Sente-me, nem meia hora passou,
Da tua sede crescente, meu corpo vibrou.
Ordeno-te amor, palavra encantada,
Na cálida textura, púrpura, prata,
Peço-te: Sente-me, Sente-me, Sente-me,
Digo-o para mim,
Ténue amor, o cravo, punhal,
O verso vertido, corpo são, metade animal.

Hugo de Oliveira
Foto: anastasia-mastrakouli

Ser-se



Sou o tal, que sabe não ser menos vão,
Dos seus amigos tácitos, a única vingança,
Amor e perdão.
E do esquecimento ao ódio cristão,
Plebe injúria, ilustres modos,
Do erro singular, árdua tentação,
É-se um todo, verbos em espada,
Aquele que deslumbra o além,
Pedaços em si, sentença d'alguém,
Na luta um esquecimento,
Silêncio em pó,
O todo, o nada.

Hugo de Oliveira
Foto: globo.com

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Noite Perpetuada

Contempla silenciosamente o teu destino.
Nem pátrias ou nações, talvez palatos memoráveis,
Prevalecerão no (in)consciente sentido.
Solta verbos, vocábulos, o coração que reprimo,
No entardecer de cada palavra,
Rasgo sensações, teu corpo, meu mimo.

Lavras a viril orla noturna,
Suor, teus braços, ténues afáveis,
Aquele tremor, sílaba transfigurada,
A marca ausente, teu corpo presente,
Dessa noite entardecida, (mal)dita, amada.

Hugo de Oliveira