terça-feira, 29 de abril de 2014

Muralhas

Sonhos perdidos na derrocada divinal,
Dos astros beija-flor entardecido,
Do castelo torpe desvanecido,
Teu corpo vigente, amor carnal.
Se é Verão o cheiro de Inverno,
Poeira em ruínas do sol adormecido,
Um pasmo que sente tamanha dor,
Dessa pele crescente, terra ou animal.
E nos escombros sombrios carpem almas,
Que beijam pedras, procriam heras,
Na roda-viva o bem destruir,
Bebemos desse copo o verbo sorrir,
Tamanho encanto, sonho ou ilusão.
Permiti tombar as ténues muralhas,
De fogo posto amar ou partir,
Acreditei em sonhos suspensos,
Na melodia do beijo vivi,
Em teus lábios traguei a doce ária,
No teu corpo cresci em paixão,
Jorrado em lágrimas torpeci,
Nos teus olhos amor senti,
Permaneci. Parti.

Hugo de Oliveira



Fotografia: Imogen Cunningham