segunda-feira, 21 de março de 2016

21 de Março - Dia Mundial da Poesia


Sôfrego.
Tenho em mim, as recordações d'um ancestral milenar.
Chego mesmo a temer os dias de tormenta,
O tédio infortuito, infeliz curioso,
Do inverno tenebroso,
Frio e rigoroso, permaneço...
Crente virtuoso.
Um célere contador de cartas e memórias,
Bilhetes de amor, orquídeas, madrigais,
Dos segredos esquecidos, na mente abrigo,
Teus olhos, meu cérebro, vácuos,letais.
Do meu corpo jazem vermes, animais,
Da colónia de margaridas desbotadas,
Jazem em silêncio as modas desprezadas,
Corpo sentido.
E das brumas em terror consciente,
Renasce dum murmúrio brumoso,
A velha esfinge cuja face fria,
Dá as boas-vindas ao sol do meio-dia.

Hugo de Oliveira
Fotografia: Bertil Nilsson

quarta-feira, 9 de março de 2016

Beija-amor


De um mau presságio estrutural, natureza bela,
Clemente sentido, esfinge rara,
Daquele seio brotando narcisos em dor,
Despertando tamanho poeta, vaidade,
Vértice-amor.
Do jardim perene, floresce sem cor,
O benjamim,
Beija-amor,
Eterna mudez, teus olhos, minha flor.
E do bem aventurado, verde temor,
A celestial esfinge,
Envolta de preces, teu corpo, calor.
Ai, essa cor, nas horas que paravam,
Do tempo longe de ti, meu tempo,
Apenas tempo, teimavam.
E nas voltas teatrais,
Os cardos brotam papoilas,
Os alecrins, azuis lisases,
Os guetos, almas cinzas,
Passadiço em flor,
Em voltas do hálice,
Perene rogo, instinto, animais.
E causa daquele amor,
Que traz vida sem dor,
Teus olhos em charco,
Lamento,
Sufoco.

Hugo de Oliveira

Fotografia: Bertil Nilsson