quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Sente-me



Sente-me, tua boca austera,
Sente-me agora, e não tardes,
Antes que o corpo se desfaça, em sangue, antes.
Antes, da morte, sente-me amor, sente-me,
Crava teus dedos, repletos do nada,
Cheira meu sopro, saboreia meu tato e sente-me,
Sente a neblina em meus olhos, a escura agonia,
E verdes os beijos, sentimos fome,
Teus lábios, conhecendo-os, lento o verbo.
E da noite vadia,
O nosso tempo urdindo,
Sente-me, vagaroso,
A minha carne, outrora pura, agora fugidia,
Vida escorrida, cíclica, languida.
Sente-me, nem meia hora passou,
Da tua sede crescente, meu corpo vibrou.
Ordeno-te amor, palavra encantada,
Na cálida textura, púrpura, prata,
Peço-te: Sente-me, Sente-me, Sente-me,
Digo-o para mim,
Ténue amor, o cravo, punhal,
O verso vertido, corpo são, metade animal.

Hugo de Oliveira
Foto: anastasia-mastrakouli

Sem comentários: