... E nessas
memórias agora divulgadas insisto permanecer em vós, mulheres esperançosas,
dessa força vigente e delicadeza floral, envolto de tamanho espírito lutador
nesta batalha desigual, que nos rouba lentamente a vontade em viver. Porém, a
ordem permanece em vós, e a louca crença em viver prevalece, ocultando
sentimentos, do medo pegar o sofrimento aos próximos, preferindo chorar
baixinho a dor do cancro. Calem a dor, silenciem o tumor e agarrem-se à vida,
aos que tanto amam. E no concílio divino tenham fé num qualquer Deus, onde as
vontades calmas apaziguam a vida. E permanecemos em contos e histórias tristes
e letais, ansiando que a nossa seja díspar, e tomem o meu exemplo, sem nunca
desistir um toque beijou o meu espírito. E em corpos invadidos por um tumor
imperfeito, ouvimos a música sonar, tropeçando na angústia e mazelas do passado
ainda por viver, nesse beija-amor, hoje tu, ontem eu, amanhã a enorme vontade
comum em existir. A noite foi-se dissipando, os médicos sorrindo na doce
melodia, porque a solidão que habitou na minha mente, demasiado dolorosa e
insuportável dissipou-se. E foram anseios, desejos estagnados que agora parecem
rejuvenescer nesta vida que me espera. Sinto, timidamente o amor no meu corpo,
este que não reconhecia. E nas lembranças mais dolorosas desmenti e confundi
esse malvado tumor, refugiando-me na tremenda vontade em abraçar o que ainda
não vivi. E agora, aquela mulher que receava ver-se ao espelho sussurra doces
fantasias, dança na fortuna do momento, no imprevisto desse timbre, naquele
toque que ainda arrepia. E as emoções outrora adormecidas são o alimento desta
sede percorrer o incerto, a descoberta do chão que parecia querer fugir.
Criam-se sorrisos narrados a olhares inocentes na hora de partir, esta mulher
que vos escreve, que respira a vossa dor, partilha as suas memórias, abraçadas
na impossibilidade do toque, caminham juntas nesta dor partilhada, que graças à
força do amor ultrapassam esse ‘corpo’ que ousou invadir o teu. Sabes, é-se
feliz naquele lugar, onde a luta é constante, fantasiando o mundo por viver,
rejuvenescemos imunes à dor, lutamos pela vida, aquela que jamais queremos
perder. Sim, é.
Ser-se Mulher um privilégio, vencer está ao alcance de todas, respira vida,
cala a dor e gritando verbos de amor a vida permanece em ti, mulher ventura,
corpo infundido, luta vencida.
Hugo de Oliveira
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