quinta-feira, 11 de junho de 2009

Deusa Chuva

Chove... a água que dilui a minha consciência, que encharca as imagens, agitam os reflexos perdidos, tremem lentamente sobre a ferida latente. Não tem fim esta chuva, chuva divinal. No pensamento chove, surgem os charcos da minha infância, onde um chapéu de água cobre cabeças perdidas, num rosto feminino oculto. A chuva nunca parou, os seres fugitivos buscavam o nosso sangue quente para se aquecerem, aquele rosto fresco tremente repousava sobre flores húmidas... Onde esconderá a chuva as suas sementes? ... em que mar irão desaguar? ... em que mão germinar? ... Em que mãos descansar? ... Tocar o mundo com mãos desajeitadas, cegas, perdidas, e entretanto, recordando, vidas intensas que se adequem às nossas. Aquele dedo encostado ao tempo, onde o rebentar das ondas perdura na tempestade inquieta desta busca que é nossa. Em que rio, ocenao, mar, maré... vertem as tuas palavras deusa chuva? onde soltaste os teus barcos? Porque transformaste o céu em água parada? Desejoso de rebentar em gotas intensas de sentido... Todos os náufragos surgem no mesmo aguaceiro, peregrinos da vontade, fortalecendo-se sob o peito da tempestade, presos nos caprichos da mão incerta dessa Deusa Chuva!

3 comentários:

João Roque disse...

Texto vivo e vibrante; não é muito comum homenagear a "deusa" chuva, mas tem todo o sentido.
Muito bem escrito.
Abraço.

Carla Silva disse...

Lindo...intenso! Palavras para quê?

Daniel C.da Silva disse...

Belissima foto, e sem demerito do resto, pérolas como estas:

*a água que dilui a minha consciência, que encharca as imagens,

*No pensamento chove, surgem os charcos da minha infância, onde um chapéu de água cobre cabeças perdidas

*Aquele dedo encostado ao tempo, onde o rebentar das ondas perdura na tempestade inquieta desta busca que é nossa

*Todos os náufragos surgem no mesmo aguaceiro, peregrinos da vontade, fortalecendo-se sob o peito da tempestade, presos nos caprichos da mão incerta dessa Deusa Chuva


Esta sensibilidade apurada nos teus textos e prosas, esta tua inner vision... como sempre nao me espantas. és bom.

E tu vais-me bater, mas quase suspirei por aqueles dias de chuva doce e miudinha...

O abraçao de sempre :)