Neste pôr do sol durmo tristeza.
Cânticos infames, aos alegres invejosos,
De lamentar o mal que não lhes pesa,
Por uns trilhos sem fim, doces e saudosos.
Permaneço n'uma alma que não sente,
Beija-flor, em silêncio teus pérfidos segredos,
Mal-amado, em veios, enleios,
Derramados, monges e frades,
Perpetuados à cruz, salvo clemente,
Sinto meu pesar, alma cheia, teu ventre.
E dos sinos, teu credo, tamanha angústia,
Das preces em mim, Ave-Maria,
O vento embaraçado chora e reza,
Pelo nosso futuro, espessa agonia.
E de não mais sentir tamanha saudade,
Dos teus lábios escorre amargura,
Da chuva em flocos, ténue e fria,
Enlouqueço em mim, que fortuna, tortura.
Já farto de existir, com medo em ficar,
A minha alma sofre em silêncio, dor, dissabor,
Do teu corpo em mim, permanece, Amor.
Tudo o resto é pura tristeza.
Hugo de Oliveira
Fotografia: Lu Kowski