quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Sofrer em Silêncio


A ti mulher, dessa força vigente de uma delicadeza floral,
E desse espírito envolvente roubas a vontade em criar outros seres.
A ordem permanece em ti, a razão prevalece, os sentidos ocultam-se,
Nesse silenciar do concílio divino.
As vontades são calmas. Apaziguam.
Permanecemos, latentes, escutando esses contos,
Da pedra que grita, o animal que geme, do sorriso imaginado.
E os cães enraivecidos a mil sóis,
Desses vultos residentes imperfeitos,
Ouvem a música sonar, o cio despoleta, a vontade vigorosa.
E no grosso caminhar, tropeçamos na angústia,
Nas mazelas do passado ainda por viver,
Nesse beija-amor, hoje tu, amanhã aquela.
E nesse baile perspicaz, ressabiados e vazios,
Sabemos que és tu a quem desejamos, fantasiamos e amamos.
A noite vai caindo, o sabor da melodia agre e doce intensifica-se,
Porque a solidão que habita nas mentes,
Torna-se dolorosa, insuportável, letal.
E reconhecendo tamanhos anseios,
Cavamos tenuemente a minuciosa sepultura,
Dessa cova antecipada decorada em doce tons,
Esperamos, sorrindo,
Vazios de certezas,

O dia incerto o escurecer do amanhã.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Porra, maldita “crise”!

Porra, maldita “crise”! E desse flagelo urticante a repugnante emigração, principalmente a que me respeita, de amigos e conhecidos, desconhecidos e distante mas que em tudo nos aproximamos. E deste pedaço que nos assiste, tão pequeno e tão antigo, viu partir em jangadas, troncos e barris de velas e telas ao sabor do mar salgado, as mais velhas gerações, dos anos 30, 40 e até mesmo os cinquentões.
E esses, na luta feroz por um pedaço de qualidade de vida, pouco mais que o nome sabiam rabiscar, e ler essa língua estrangeira tornava-se difícil tarefa, para nem dizer falar que mal se entendiam, pronunciavam um português mal falado, com um toque de pronúncia estrangeira e lá iam conseguindo levar o seu barco a bom rumo, sem nunca naufragar. É certo, haverá povo melhor preparado para viver em qualquer parte do mundo? Duvido.
E foram os tempos, em que os filhos lá de Trás-os-Montes, distantes e perdidos, partiam sem rumo de mochila feita, com lembranças da lezíria da comida à saudade, um pouco meio-cheio preenchiam a vontade por umas semanas de partida. Agora, meus caros partem os Doutores, sabidos e explorados desta sociedade do conhecimento. E fogem, porque o sacrifício foi mais que tanto, anos e anos de uma luta desigual, por uma oportunidade neste nicho entorpecido que é o nosso país. E essas vagas escasseiam, altamente povoadas pelos Doutores de Coimbra, que reservam a sua cadeira usada e roçada para os enteados vindos lá das privadas e outras que tais. E a vergonha e frustração já levou tantos dos meus – porra – e o café de sempre perde o saber de anos, a imperial já não faz sentido, as saídas perdem um elemento base de todos os tempos. E os que ficam? Lutam para sobreviver, saboreando esse apertado sol de outono, a sardinha e o mar, a praia e montanha deste país desfigurado que me envergonha.
E aqueles que lutam sem nunca perderem a esperança e que contribuem para uma causa social, que se dedicam às artes, e até mesmo ao meio animal? São excluídos. Discentes. Perplexos desviantes desta sociedade corrompida. E o resultado? Mais uns quantos frustrados, agoniados e desanimados.
E torna-se corriqueira a notícia entre amigos, que vão partir, para o quê ou para onde vão, pouco sabem, apenas pensam (e eu espero mesmo) que vão para melhor. E já não vão os da aldeia, para a França ou Suíça, mas também os da Capital, que da China ao Nepal diversificam os destinos.
Porra, maldita crise, que tantos me levas, e por cá continuo, caminhando ao pôr-do-sol, com o pensamento a milhares de km’s, ao sabor desta angústia, onde o pastel de nata a nada sabe, o café tende a azedar nessa manhã em que o sol pouco ou nada brilha neste jardim à beira-mar plantado.


Porra!